Câmera do orbitador ExoMars TGO capta pela primeira vez um corpo interestelar em trajetória próxima ao Planeta Vermelho.
A Agência Espacial Europeia (ESA) confirmou oficialmente, nesta segunda-feira (07 de outubro de 2025), a captura das primeiras imagens do cometa interestelar 3I/ATLAS durante sua passagem próxima a Marte.
O registro foi obtido pelo orbitador ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO), que utiliza a câmera CaSSIS (Colour and Stereo Surface Imaging System), equipamento projetado para estudar a superfície marciana, mas que, desta vez, protagonizou um feito astronômico raro.
Mesmo não sendo voltada à observação de objetos distantes e de baixo brilho, a CaSSIS conseguiu registrar o cometa 3I/ATLAS enquanto ele cruzava o campo de visão do orbitador.
Esse feito representa um marco para a ciência espacial, pois se trata da primeira vez que um objeto interestelar é documentado em interação visual com outro planeta além da Terra.
A detecção do 3I/ATLAS pela ESA reforça o interesse crescente da astronomia em compreender esses corpos celestes vindos de fora do Sistema Solar.
Até hoje, apenas dois outros objetos desse tipo haviam sido oficialmente observados: o enigmático ‘Oumuamua (1I/2017 U1) e o cometa 2I/Borisov.
Agora, com o ESA revela imagens inéditas do cometa interestelar 3I/ATLAS durante passagem por Marte, os cientistas ganham uma nova oportunidade para estudar a composição e o comportamento desses visitantes cósmicos.
De acordo com o comunicado oficial da ESA (Agência Espacial Europeia), o limite de exposição da câmera CaSSIS é de 0,5 segundo, já que o instrumento foi desenvolvido para registrar a superfície altamente refletiva de Marte.
Isso torna o registro do 3I/ATLAS ainda mais impressionante, pois o cometa possui brilho extremamente reduzido e está localizado a milhões de quilômetros de distância do orbitador.
Nas imagens, o objeto aparece como um ponto luminoso difuso movendo-se lentamente entre os quadros capturados.
Segundo os cientistas da missão ExoMars TGO, mesmo que a resolução seja limitada, o registro fornece dados cruciais sobre a trajetória, brilho e velocidade aparente do corpo interestelar.
O desafio de capturar o 3I/ATLAS
O cometa 3I/ATLAS é estimado como entre 10 mil e 100 mil vezes mais fraco que os alvos habituais da câmera CaSSIS.
Para superar as limitações técnicas, a equipe da ESA utilizou uma técnica conhecida como image stacking, na qual várias imagens de 5 segundos de exposição são empilhadas digitalmente para aumentar a visibilidade do objeto.
Mesmo com esse recurso, o cometa aparece como uma mancha difusa — reflexo natural de sua baixa luminosidade e da distância. A ESA ressaltou que a observação foi extremamente desafiadora, já que a câmera não foi projetada para registrar objetos tão tênues.
Ainda assim, o feito representa uma conquista científica notável e reforça o potencial do ExoMars TGO para observações complementares do espaço profundo.
Os cientistas observaram pequenas variações de brilho entre os frames, o que pode indicar uma leve rotação do núcleo do cometa ou simples interferências óticas causadas pela exposição.
A ESA destacou que qualquer “forma incomum” percebida nas imagens deve ser interpretada com cautela, já que o ruído eletrônico e o ajuste automático de foco podem gerar distorções visuais.
Composição química e origem interestelar
Estudos independentes, conduzidos por equipes ligadas à NASA e ao Telescópio Espacial James Webb (JWST), confirmaram que a coma do 3I/ATLAS, a nuvem de gás que envolve o núcleo, é composta principalmente por dióxido de carbono (CO₂), água e monóxido de carbono (CO), além de traços de compostos orgânicos voláteis.
Essa combinação sugere que o cometa se formou em regiões externas e frias de um sistema estelar distante, reforçando sua natureza interestelar. Modelos orbitais indicam que ele percorre uma trajetória hiperbólica, ou seja, uma rota que não o trará de volta ao Sistema Solar.
A estimativa atual é de que o núcleo sólido do cometa tenha entre centenas de metros e alguns quilômetros de diâmetro, valores semelhantes aos de cometas comuns, mas com uma assinatura química distinta, o que intriga os astrônomos.
Para a ESA, essa observação comprova a eficiência e a versatilidade das missões interplanetárias. O ExoMars TGO, projetado para analisar gases traço na atmosfera marciana, agora se mostra capaz de colaborar com pesquisas de astronomia interestelar.
As informações coletadas poderão ser combinadas com dados do Mars Express e do Telescópio James Webb, permitindo um estudo mais detalhado sobre a composição e o comportamento do 3I/ATLAS.
Esses dados são essenciais para entender como cometas interestelares se formam, evoluem e interagem com outros sistemas planetários.
O registro do cometa interestelar 3I/ATLAS pela ESA durante sua passagem por Marte representa um avanço significativo na exploração científica do espaço.
Mesmo com equipamentos não projetados para essa finalidade, a agência conseguiu comprovar a detecção de um corpo vindo de outra estrela — um feito raro e valioso para a astronomia moderna.
A partir dessas observações, os cientistas esperam decifrar novas pistas sobre a origem dos sistemas planetários e o papel dos cometas na distribuição de compostos orgânicos pelo cosmos.
O visitante interestelar 3I/ATLAS, embora distante, reforça a importância da cooperação entre missões como o ExoMars TGO, ESA, NASA e JWST na busca por compreender os mistérios que atravessam o nosso Sistema Solar.
Fontes: ESA – European Space Agency InfocusNews
Imagem:Créditos:ExoMars TGO images comet 3I/ATLAS




