Rocha espacial de 340 metros passará a apenas 32 mil km do planeta e poderá ser vista a olho nu por bilhões de pessoas.
A aproximação do asteroide Apophis é um dos acontecimentos astronômicos mais aguardados do século XXI.
Em 13 de abril de 2029, o corpo celeste de cerca de 340 metros de diâmetro passará a apenas 32 mil quilômetros da Terra, uma distância considerada pequena em termos cósmicos, mas que não oferece risco de colisão com o planeta, de acordo com a NASA.
A passagem, visível a olho nu em várias regiões do mundo, poderá ser observada por mais de 2 bilhões de pessoas, especialmente na África e na Europa Ocidental.
O evento, que ocorre em média a cada 7.500 anos, promete unir o fascínio popular com o interesse científico, abrindo caminho para novas descobertas sobre asteroides próximos à Terra.
O Apophis foi identificado em 2004 pelos astrônomos Roy Tucker, David Tholen e Fabrizio Bernardi.
Na época, os cálculos iniciais indicaram uma chance de colisão futura, o que causou grande preocupação na comunidade científica.
O nome escolhido reflete essa apreensão: Apophis é inspirado no deus egípcio do caos e da destruição, um símbolo do perigo que a rocha poderia representar.
Felizmente, estudos mais detalhados descartaram qualquer risco real, pelo menos pelos próximos 100 anos.
Como será a aproximação de 2029.
Na noite de 13 de abril de 2029, o Apophis cruzará o céu em uma rota tão próxima que ficará abaixo da órbita de alguns satélites geoestacionários. Essa proximidade permitirá observações inéditas.
A gravidade da Terra terá papel decisivo no encontro, provocando efeitos físicos importantes no asteroide, como:
Alteração de sua órbita em torno do Sol, deixando-a mais longa;
Possíveis mudanças em sua velocidade de rotação;
Torções e compressões que podem provocar deslizamentos de material em sua superfície;
Deslocamento de detritos que revelarão mais sobre sua composição.
Esses fenômenos dificilmente seriam registrados em outras condições, o que transforma a aproximação em um laboratório natural no espaço.
Fenômeno visível para bilhões de pessoas.
Diferente de outros corpos celestes que só podem ser vistos com telescópios, o Apophis poderá ser observado a olho nu.
Seu brilho será comparável ao de estrelas visíveis em constelações populares, tornando o evento acessível mesmo para pessoas sem equipamentos de observação.
As regiões mais favorecidas serão a África e a Europa Ocidental, mas em outros locais será possível acompanhar o espetáculo com binóculos ou telescópios amadores.
Trata-se de uma oportunidade rara, já que um evento semelhante não ocorre há milhares de anos e não se repetirá tão cedo.
Três missões espaciais confirmadas para estudar o Apophis.
A relevância do Apophis atraiu o interesse de agências espaciais em todo o mundo. Pelo menos três grandes missões já estão planejadas para 2029:
1. RAMSES – Agência Espacial Europeia (ESA).
A Rapid Apophis Mission for Space Safety (RAMSES), da ESA, tem lançamento previsto para 2028. Segundo a professora Monica Lazzarin, da Universidade de Pádua, a missão vai analisar:
A órbita e o estado rotacional do asteroide;
Mudanças causadas pela aproximação da Terra;
Estrutura interna e composição.
Há ainda a expectativa de lançar um cubesat com instrumentos capazes de pousar no asteroide.
2. DESTINY+ – Agência Japonesa (JAXA).
A JAXA também participará com a missão DESTINY+, que seguirá até o asteroide 3200 Phaethon, mas aproveitará a passagem do Apophis para coletar dados preciosos.
O lançamento ocorrerá junto com a RAMSES, a bordo do foguete japonês H3.
3. OSIRIS-APEX – NASA.
A NASA estenderá a missão da OSIRIS-REx, que já trouxe amostras do asteroide Bennu, transformando-a na OSIRIS-APEX.
O objetivo será observar de perto as mudanças físicas no Apophis após sua interação com a Terra.
Apesar de ter enfrentado cortes orçamentários em 2025, a expectativa é de que o projeto seja mantido devido à sua importância científica.
Para o pesquisador Michael Nolan, da OSIRIS-APEX, a cooperação internacional será fundamental:
“As naves espaciais têm pontos fortes diferentes. Com as equipes científicas conversando entre si, podemos dizer: ‘Se você fizer esta observação, nós podemos fazer aquela observação’. Isso é melhor do que qualquer um de nós conseguiria fazer separadamente.”
O sobrevoo do Apophis será uma chance sem precedentes para:
Testar estratégias de defesa planetária contra possíveis ameaças futuras;
Estudar a composição dos asteroides, que podem conter recursos úteis em futuras missões espaciais;
Compreender melhor a dinâmica orbital de pequenos corpos no Sistema Solar;
Avaliar como a gravidade da Terra pode alterar significativamente a estrutura de um asteroide.
Esses dados serão valiosos tanto para a ciência quanto para a segurança da humanidade.
O encontro com o Apophis, em 2029, promete ser um espetáculo celeste e uma oportunidade única de avanço científico.
Enquanto a população mundial se prepara para testemunhar a olho nu um asteroide cruzando o céu, os cientistas aguardam ansiosamente para estudar cada detalhe de sua interação com a Terra.
Será um momento histórico em que ciência e espetáculo se unem, lembrando-nos da grandiosidade do cosmos e da importância de compreender os corpos celestes que compartilham nosso Sistema Sola
Fonte: science.nasa
(Imagem Ilustração Apophis/Créditos:GilAlves)